sábado, 31 de março de 2012

Outra versão da Eurocopa de 2008

Depois de pegar um excelente baba hoje, me veio à memoria um dos melhores torneios de futebol que já tive o prazer de assistir na vida: a Eurocopa de 2008.

Há quase quatro anos, nós, adoradores do bom futebol, fomos premiados com um belo campeonato organizado pela Suíça e pela Áustria, excelentes anfitriões, diga-se de passagem. O certame foi vencido pela Espanha, que tinha uma grande equipe e era a grande favorita ao título. Casillas, Serio Ramos, Puyol, Pique e Capdevilla; Xabi Alonso, Xavi, Iniesta e David Silva; David Villa e Fernando Torres. No banco, Luis Aragonés era o comandante deste time quase imbatível, que tinha, e ainda tem, a base do Barcelona.

Na final, conta a Alemanha, apesar do placar magro de 1 a 0, a Espanha foi tão superior, mas tão superior, que os germânicos nem podem contestar jogo equilibrado. O time de Joachim Low, vale ressaltar, também fez um belo torneio, com uma equipe jovem e promissora, mas a Espanha estava mais preparada e levantou o caneco. Dois anos mais tarde, esta mesma base viria a ganhar a Copa do Mundo, primeira da história da Fúria. 

Mas engana-se quem pensa que a Euro 2008 se restringiu a estas duas seleções. Na verdade, minha vontade ao criar este post era falar sobre equipes que, mesmo não vencendo, surpreenderam e encheram os olhos dos espectadores.

E foi na Euro 2008 que o Mago Guus Hiddink aprontou mais uma das suas no comando da Rússia. Mas a primeira partida não foi muito promissora, a julgar pelo placar: sofreu uma sonora goleada por 4 a 1 da Espanha. Depois, duas vitórias levaram a equipe às quartas de final. E o adversário, por ironia do destino, foi a poderosa Holanda, país natal de Hiddink. Depois de um empate por 1 a 1 no tempo regular, a Rússia eliminou a Holanda com dois gols na prorrogação e chegou às semi, sendo eliminada pela Espanha.

Uma pergunta relevante: a boa campanha da surpreendente Rússia na Euro deve ser creditada à genialidade de Hiddink ou ao crescimento do futebol russo? Na minha modesta opinião, um pouco dos dois. É indiscutível que o futebol russo é um dos que mais crescem na Europa e as boas campanhas das equipes nacionais nos torneios continentais falam por si. Naquela competição, a Rússia tinha bons nomes, como o goleiro Akinfeev, os defensores Ignashevich e Anyukov, os meias Zhirkov, Zyryanov e o craque do time, Arshavin, além do bom atacante Pavlyucheko. Os comandados do Mago fizeram tão boa campanha que acabaram despertando interesse de grandes clubes da Europa após o certame. O que Hiddink fez - e isso merece muitas congratulações - foi pegar um grupo de bons jogadores, e transformar em uma equipe competitiva, extraindo o máximo de cada jogador. O resultado foi, no final das contas, brilhante para uma seleção em que as expectativas era simplesmente classificar para o torneio.

Mais surpreendente ainda do que a Rússia foi a modesta Turquia. Para não chamar Fatih Terim, comandante turco, de Mago, assim como Hiddink, vamos chamá-lo de Feiticeiro, já que sua campanha foi tão impressionante quanto a do seu companheiro. O início do certame, assim como para os russos, também não foi muito promissor para os turcos: derrota por 2 a 0 para Portugal, que seria o grande adversário da chave. Mas duas vitórias seguidas deram a classificação à equipe, eliminando a anfitriã Suíça e decretando a aposentadoria do grande ídolo suíço Alexander Frei.

O adversário das quartas seria a Croácia, comandada pelo genial Slaven Bilic, que chegou a ser sondado para treinar o Chelsea após a Euro. Lembro-me como ontem desta bela partida que tive o prazer de acompanhar do início ao fim. O tempo regular terminou 0 a 0. Na prorrogação, o incansável Ivan Klasnic fez para os croatas, mas Senturk empatou e levou o jogo para os pênaltis. E as penalidades consagraram o bom e velho Rustu Recber, aquele mesmo da Copa de 2002, que substituíra o titular Volkan Demirel, expulso na partida anterior contra a República Tcheca. A partida marcou a despedida do ídolo e capitão croata Niko Kovac. Confesso que não segurei as lágrimas no momento em que vi Kovac e seus companheiros cabisbaixos, e ainda ver Bilic tentando alegrá-los, como se dissesse "vocês fizeram o melhor, são vencedores independente do resultado". Foi emocionante.

Assim como a Rússia, a Turquia tinha uma boa safra e foi bem treinada por Terim. A dupla de zaga formada por Gokhan Zan e Emre Asik era segura. O lateral esquerdo Hakan Balta, para mim, foi o melhor da Euro, devido à sua regularidade e, principalmente, pelo apoio e marcação. Os meias Arda Turan e Mehmet Topal eram criativos e trabalhadores. E no ataque, Nihat fazia o que era necessário. O Feiticeiro pegou tudo isso, juntou com outros ingerdientes, jogou em seu caldeirão e transformou numa bela equipe, que foi eliminada nas semi pela Alemanha. Esta foi outra partida histórica, pois os turcos jogaram muito desfalcados e acabaram perdendo por 3 a 2. Acho que se ambas as equipes estivessem com suas equipes titulares, o placar poderia ser outro.

E a Croácia de Bilic foi outra boa surpresa, pelo bom futebol apresentado na competição. O principal ponto forte do time era o meio campo, formado pelos jovens e talentosos Kranjcar, Modric, Pranjic e Rakitic. Com um esquema ofensivo e ousado, Bilic levou seus jovens promissores a bater a poderosa Alemanha na primeira fase, classificando-se em primeiro da chave. A sensação que ficou foi que a equipe poderia ter ido mais longe, apesar de ter feito uma boa competição.

O troféu de decepção da Euro 2008 ficou dividido entre França, Grécia - que era a detentora do título -, Romênia, Holanda, Áustria, Suíça e Itália. Esta última seleção foi eliminada pela Espanha, mas resistiu até os pênaltis. Por isso, talvez não seja lá uma grande decepção. As donas da casa fizeram uma competição ruim e foram eliminadas na primeira fase, sem mostrar um futebol que empolgasse os torcedores. Mesmo assim, creio que eles ficaram muito satisfeitos com o torneio e com o desempenho de suas seleções.

A Holanda decepcionou ao ser eliminada pela modéstia Rússia, sem tirar dessa todos os méritos que lhe é de direito. A equipe de Marco Van Basten, treinador holandês à época, fizera uma campanha de classificação para o certame quase perfeita e fez a melhor campanha da primeira fase da Euro. Os holandeses ficaram devendo. O resultado custaria o emprego de Van Basten, que assumiria o Ajax tempos depois.

A Romênia decepcionou pela grande campanha que fizera nas eliminatórias para a Euro. Mas quando a competição começou, a equipe não suportou a pressão e foi eliminada na fase de grupos. O treinador romeno, Victor Piturca, diga-se de passagem, é muito competente e montou uma boa equipe, que também poderia ter ido mais longe.

A França do estranho Raymond Domenech foi eliminada na fase de grupos, ficando em último lugar do grupo. Com um time envelhecido e manjado, Domenech foi incapaz de dar ao time consistência tática, o que resultou em um atrito com alguns atletas.

No final da Euro, o saldo para quem ama este esporte foi muito positivo. Para mim, foi sensacional. Chorei, vibrei, gritei, fiquei nervoso, me exaltei e me emocionei, ah, como me emocionei. No dia da final, chegava ao fim um sonho que durou 15 dias, que pareciam intermináveis. É em competições como essa que as verdadeiras lições do futebol ficama evidenciadas. Jogar limpo, aprender a perder, e sempre, mas sempre, respeitar o adversário são coisas que vi na Euro 2008. Uma pena que não posso voltar no tempo e sentir, mais uma vez, a sensação maravilhosa de assistir de novo a Eurocopa de 2008. Mas as boas lembranças ficaram e, enquanto elas existirem, me emocionarei com o futebol.